O som do Rio entre os monstros sagrados do Jazz



Muito já se falou do chorinho, um dos mais populares ritmos cariocas da primeira metade do século XX, como o “jazz” que se faz fora das terras do Tio Sam, pela característica que ambos possuem de permitir todo tipo de improviso por seus intérpretes. Mas quando o foco é posto sobre a estrutura melódica dos dois ritmos, não se encontra um traço comum entre eles no que toca a compasso, marcação, melodia, harmonia e até componentes culturais típicos nas expressões musicais dos dois países.

No entanto existe um outro ritmo também do Rio – nascido desta vez no seio da classe mais abastada de sua zona sul – cuja semelhança com o estilo musical popularizado em New Orleans, a partir dos anos 20 do século passado, se mostra tão forte em seus elementos melódicos que nem se nota a passagem de um para o outro a não ser pelo idioma: a Bossa Nova. E quando são interpretados nos dos idiomas, independente de qual música, por representantes de lá e de cá, torna-se praticamente impossível distinguir-se o que é jazz e o que é bossa nova, como prova este vídeo que mistura os dois estilos em uma seleção ininterrupta, alternando-os de forma quase imperceptível em clássicos bastante conhecidos por todos: https://www.youtube.com/watch?v=cJbI2fuTqsc&t=2592s

Não é de se estranhar, portanto, que esse importante movimento musical brasileiro foi assimilado de forma quase instantânea nos EUA, levado pela voz de seus criadores e incorporado ao repertório de grandes expressões do Jazz americano de todos os tempos, como Ella Fitzgerald, Ray Charles e Frank Sinatra – três de seus monstros sagrados – entre outros mitos como Stan Getz, Paul Winter, Herbie Mann, e Jon Hendricks. Chama atenção ainda o fato de a Bossa Nova – apesar de ironicamente haver caído no ostracismo entre nós – ter-se mantido popular por lá como um dos nossos mais importantes movimentos musicais. Por sua força lá fora, essa forma de expressão musical tão nossa acabou incorporada ao tipo de som que os americanos se acostumaram a identificar como rítmo "Brazuca".  

Tanto no Jazz quanto na Bossa Nova se observam longas e melodiosas improvisações de  canto puramente rítmico que se confundem entre os sons produzidos pelos instrumentos. Ella Fitzgerald, inclusive, aperfeiçoou esse canto improvisado que ficou conhecido como “scat”, técnica criada por Louis Armstrong que consiste em vocalizar tanto sem palavras, quanto com palavras sem sentido e sílabas (por exemplo: «la dum ba dum pa»), e posteriormente adotado por cantores de jazz, criando o equivalente de um solo instrumental utilizando somente a voz. No Brasil esse estilo tornou-se marca registrada de cantores de grandes recursos vocais, como Elza Soares.


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