O depois nem sempre aplaudido como se queria

 


Não há governante sem opositores ferrenhos, independente do que ele faça. Desde as gestões de Pereira Passos (1902-1906), responsável por grandes obras como a Av. Presidente Vargas, o Teatro Municial, a Biblioteca Nacional e a Av. Rio Branco, dentre outras, e Carlos Sampaio (1920-1922), que promoveu o desmonte do Morro do Castelo e mudou toda a paisagem do centro do Rio, nenhum outro prefeito nesses últimos 100 anos realizou intervenções urbanísticas tão profundas na capital fluminense quanto Eduardo Paes, ao preparar o Rio para os grandes eventos mundiais da Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. 

Tá... Nem tudo sai como se espera e tem muita coisa ainda pra corrigir, mas mudanças tão grandiosas não são feitas sem muita polêmica levantada pelos defensores do que havia antes, claro, como quando da derrubada do elevado da Perimetral para construção do Porto Maravilha. À despeito da degradação da área causada pelo monstrengo de cimento que cortava toda a região central, Paes sofreu fortes ataques pelos que o acusavam de promover a elitização da área, expulsando a população mais pobre que ali morava num processo conhecido por “gentrificação”. Mas justiça seja feita:  o cara tem peito para encarar os interesses contrariados, ousadia e opinião própria, e não dá pra dizer que deixa as coisas pela metade em seu afã de buscar novas idéias e passar ao largo da "política de cabresto", qualidade rara nesse histórico do "deixa quieto" a que assistimos há décadas, para sermos bem honestos.

Como em toda intervenção que muda drasticamente a realidade dos seus locais de origem, muitas pessoas são afetadas, sim, e outras tantas se beneficiam do que chega para substituir o antigo. E ainda que seus idealizadores tenham o cuidado de reduzir ao máximo o drama das populações afetadas, jamais o conseguirão de forma satisfatória, pois ninguém aceita mudanças que alterem seu status quo sem que tenha sido ouvido antes e durante o processo. 

E como é impossível alcançar unanimidade, cabe ao governante encarar o controverso  desafio de “fazer omelete sem quebrar os ovos”. Tem solução? Nunca saberemos, pois a diversidade dos anseios humanos é muito ampla e a polêmica entre prós e contras nunca deixará de existir, daí que a avaliação do resultado final sempre se fará pela ótica de beneficiados e prejudicados. Pela ótica social, será legítimo mudar toda a história de vida de um segmento social para beneficiar a classe mais privilegiada? Mas pela visão dos avanços inevitáveis que se cobra dos gestores ao redor do mundo, até que momento se poderá adiar um inevitável desenvolvimento em prol dos que não se vêm contemplados por ele?

No caso de Paes, por exemplo, eu fui uma daquelas pessoas para as quais as mudanças que ele implementou foram sobejamente benéficas a ponto de interferir até no meu emocional, bastando cruzar a ponte para usufruir de todas as vantagens do Porto. Portanto não há termos de comparação entre o antes e o depois da minha cabeça e o daquela área que, depois de passar pela revitalização, tornou-se viva e transitável, reduziu os riscos de um local ermo e degradado que eu evitava, e se transformou para mim na fonte de muitas inspirações e de um lazer indispensável e vital.  Questão de perguntar:  o que é justo e o que não é quando ambas as coisas são igualmente necessárias?


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