Rua da Carioca vai voltar a ser a mais carioca do Rio

 

 



Até agora, pelo menos sete cervejarias fecharam acordo com donos de imóveis. Três das habilitadas se juntaram e vão ocupar os cerca de 800 metros quadrados do 72, do 74 e do 76 da Carioca, onde funcionava uma boate. Piedade, Candanga e Martelo Pagão vão implantar uma fábrica de bebidas única no segundo andar, mas cada um terá seu bar e suas peculiaridades. 

— Nosso bar, no térreo, deve funcionar para almoço. Queremos oferecer curso para cervejeiros e promover visitas guiadas na fábrica — conta René Saleme, dono da Piedade. — Em lojas ao lado e na frente, há estacionamento, o que vai facilitar quem quiser vir de carro. O roof top é perfeito para festas internas. E estamos sugerindo à prefeitura que feche a rua aos sábados e domingos para eventos externos. 

Já na Candanga, que, além de cerveja, produz whisky, os pets serão bem-vindos. 

— Vamos ser muito pet friendly. Essa é a meta. Vai ser aquele lugar em que o pet vai chegar e abanar o rabo feliz — brinca o dono Caique Costa. 

O nome da cervejaria, explica Caique, é uma homenagem à esposa, que é de Brasília. O que não faltam são planos ao empresário:

 — Espero usar meu espaço para dar oportunidades para quem precisa mostrar seu trabalho. Como artistas em geral, comediantes, músicos, atores, pintores, escultores. Pretendo trazer das operações de rua, das feiras que participo, grandes profissionais, elogiados nessa estrada da vida que é a gastronomia de rua. Quero já começar com um cardápio popular, e preços atrativos. Quero que seja algo bem carioca. 

Para uma rua que promete ser tão eclética, a Martelo Pagão pretende produzir ali cerveja medieval e hidromel. Seus planos incluem feira com artigos medievais, campeonatos de luta HMB e HEMA, e shows de música celta, rock e dança. 

Projeto gastronômico

A Tio Ruy e a Búzios fizeram parceria com um operador — o Bafo da Prainha —, criaram o Projeto Cotovelo e conseguiram acertar com o Opportunity o aluguel das lojas 15 e 17, com 200 metros quadrados cada. Antes de fechar, no 15 havia uma loja de material elétrico, e no 17, de malas. 

— Não foi simples a negociação, mas o banco acreditou no nosso projeto e chegou ao que queríamos — conta Eduardo Pontes, dono da Tio Ruy, sem revelar o valor do aluguel, mas detalhando como vai operar: — Teremos uma fábrica de nossos estilos (a Tio Ruy tem seis rótulos, e a Búzios, 14) para atender à demanda do espaço. Entretanto, nosso projeto será mais gastronômico do que de volume de cerveja. Teremos petiscos, pratos e eventos. 

Das 13 empresas habilitadas, uma tem suas instalações em Niterói; duas em Búzios; uma em Volta Redonda; uma em Iguaba Grande; uma em Carmo; e as sete outras no Rio. Há da centenária cachaçaria Da Quinta, de Carmo, à caçulinha Kranz Bier, fundada em 2021, em Iguaba. 

Dono da Kranz Bier, Jefferson Kranz pretende trabalhar no Rio em parceria com outra cervejaria de Saquarema. Entre as futuras atividades, a Arkan & Kranz planeja ter, às sextas-feiras até 20h, happy hour com dose dupla de um dos estilos de sua cerveja. Ela vai se instalar no 23 da Rua da Carioca e promete realizar mensalmente brassagem coletiva, com explicações de seu mestre cervejeiro sobre o processo de produção de cerveja. 

A Da Quinta ainda negocia com proprietários de imóveis: 

— A destilaria está desde 1923 com minha família. Estamos levando essa tradição para esse projeto no Rio. E fazendo parcerias com empresários com experiência, para oferecermos também gastronomia e cultura — conta Kátia Alves Espírito Santo, proprietária da Da Quinta. — Ainda estamos tentando fechar uma aquisição, juntamente com nossos parceiros. Acho a oportunidade e o projeto da prefeitura muito bons. Temos confiança no empenho da prefeitura para reativar o Centro. E está sendo ainda mais animador saber que o aluguel de casas da Rua da Carioca já foi fechado por algumas cervejarias. 

Sergio Fonchaz, sócio da Sundog Cervejaria, também está negociando o valor do aluguel do 13 ou do 19 da Carioca. No primeiro endereço, funcionou uma loja de malas, e no 19, a Mariu’s Rio Sport. 

A Sundog tem sede na Gamboa, Zona Norte do Rio, e é especializada em cervejas artesanais históricas, como Egyptian Ancient Ale, Sumerian Wild Ale, Celtic Braggot, Indian Est e Aboriginal Flower Sour. 

— O projeto tem tudo para dar certo, estamos otimistas — diz Fonchaz. 

"É preciso que a rua tenha segurança"

Tão animado está Caetano Herz Martins, dono da Culturas Vivas. O carro-chefe da empresa é a kombucha (chá fermentado), que pode ser alcoólico. Formado em gastronomia e filho da dona do restaurante Celeiro (Leblon), Lucia Lacombe Herz, ele também planeja fabricar cerveja na Carioca, e oferecer drinks e tira-gostos diferenciados. Sua preocupação é com o entorno: 

— É preciso que a rua tenha segurança, iluminação, poda, e que o trânsito seja fechado em alguns dias e horários. 

Oferecido aos cervejeiros, no imóvel que ocupa os prédios de número 62 e 64 da Rua da Carioca funcionou o Cine Ideal, construído em 1909 e fechado em 1961. O imponente edifício, com uma área de mais de mil metros quadrados, chegou a abrigar uma famosa boate LGBTQIA+, que formava filas na porta. Mas está fechado desde a pandemia de Covid-19. 

— Alguns interessados no aluguel nos procuraram, mas o imóvel é muito grande e não permite o uso de gás; só de aparelhos elétricos. Pedimos R$ 25 mil de aluguel. De qualquer forma, preferimos vender, porque ficamos preocupados que danifiquem algo — afirma Ciro José Saquillo dos Reis, marido de uma das donas do imóvel, que espera que o programa da Rua da Cerveja deslanche. — Há cerca de um mês, invadiram o prédio e roubaram vários objetos de metal. Se a rua for revitalizada e ocupada, teremos mais tranquilidade. 

Sobre seu patrimônio, em nota o Opportunity afirma que está trabalhando com valores de até R$ 15 mil por imóvel. Além disso, a negociação inclui carência entre quatro e seis meses. “A Rua da Carioca, com a Rua da Cerveja, dará mais expressão ao Centro da cidade, contribuindo para a sua revitalização e valorização. Esta ação, somada ao Reviver Centro, tem atraído novos moradores, visitantes e turistas para o bairro” acrescenta. 


O que cada empresa promete fazer 

1. Martelo Pagão (do Rio)

Produção de cerveja medieval e hidromel.

Começou há 5 anos participando de feiras de cerveja artesanais e feiras.

Ambiente e estilo medieval.

Atividades: feira de artigos medievais; campeonatos de luta HMB e HEMA; shows de música celta, rock e dança; e palestras com especialistas em história medieval.

 

2. Cervejaria Candanga (do Rio)

Produção de cervejas estilo American Pale Ale, Índia Pale Ale; Bière de Garde; Pilsen; e Weiss.

Cervejeiro caseiro desde 1997. Produz também whisky.

Terá tira-gostos, delivery e espaço misto que poderá servir para eventos, festas e reuniões.

Pets serão bem-vindos.

 

3. Cervejaria Búzios (de Búzios)

Produção de cervejas estilo Pilsen, APA, IPA, Witbier e Dunkel, além de edições especiais.

Fundada há cerca de 13 anos, ganhou o prêmio de melhor cerveja do mundo no World Beer Awards, em Londres, no estilo Witbier, com a cerveja Brigitte.

Promete práticas sustentáveis, de inovação e de inclusão social.

Atividades: apresentações musicais, eventos gastronômicos, workshops sobre degustação e harmonização de cervejas, eventos de lançamento de novos estilos e brassagem aberta.

 

4. Cervejaria Piedade (do Rio)

Incubadora de cervejarias ciganas (que usam espaço de outras cervejarias para fabricar suas marcas).

Fundada em 2016.

Gastronomia em estilo American Barbecue

Atividades: ocupação da Rua da Carioca com apresentações artísticas em geral e rodas de música popular.

 

5. Máfia (de Niterói)

Produção de cervejas estilo Pilsen, IPA, Witibier, Strong APA, Hop Lager, APA, American Stout e Sour

Fundada em 2016.

Atividades: projeto Jazz na Rua; e workshops de homebrew e de análises aromáticas.

 

6. Vírus Bier (do Rio)

Produção de estilo Pilsen, Witbier, Session Ipa, APA, IPA, Golden Ale, Double IPA, New England, Porter, Stout e Weiss

Fundada em 2018.

Promete práticas cervejeiras sustentáveis.

Atividades: visitas guiadas à cervejaria sobre cerveja e história da região; e música ao vivo.

 

7. Culturas Vivas (do Rio)

Produção de cervejas estilo Pilsen, Ipa e Apa, além de kombuchas e drinks.

Fundada em 2017.

Oferecerá petiscos finos.

Atividades: festival da cerveja; música ao vivo aos sábados.

 

8. Tio Ruy (do Rio)

Produção de cervejas estilo APA, IPA, Weiss, Stout e Session IPA, além de edições especiais.

Fundada em 2016.

Brassagens abertas.

Atividades: eventos variados com música, gastronomia e harmonização.

 

9. Hoperários (de Volta Redonda)

Produção variada de cerveja.

Fundada em 2020.

Elementos estruturais e arquitetônicos com pegada industrial.

Atividades: música ambiente e, eventualmente, ao vivo.

 

10. Kranz Bier (de Iguaba Grande)

Produção variada de cerveja.

Fundada em 2021

Atividades: happy hour às sextas-feiras, com dose dupla de um dos estilos de cerveja; e brassagem coletiva uma vez ao mês, com explicação do mestre cervejeiro

 

11. Sundog (do Rio)

Produção com especialização em cervejas históricas, como Egyptian Ancient Ale, Sumerian Wild Ale, Celtic Braggot, Indian Est e Aboriginal Flower Sour.

Fundada em 2017

Gastronomia temática

Atividades: bandas uma vez por semana; simpósios imersivos mensais; loja de lembranças; workshops históricos regulares sobre, por exemplo, a produção de artesanato viking, indígena e celta.

 

12. Da Quinta (de Carmo)

Produção de cachaça branca e envelhecida, e de bebida mista.

Fundada em 1923

Atrações: visitas guiada sobre a história da cachaça do Rio de Janeiro e no Brasil; workshops de coquetelaria; apresentações musicais; e venda de souvenirs.

 

13. Jourdan Bière (de Búzios)

Produção de cervejas diversas

Fundada em 2019

Atividades: cursos e biblioteca sobre produção de cerveja; jogos sobre cerveja; votação da melhor cerveja; rodas de samba; shows; e harmonização aos sábados à tarde.


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